O Parque Estadual da Pedra Branca é considerado a maior reserva florestal em área urbana no mundo. Compreende um total de 12.500 hectares, onde se destaca o Pico da Pedra Branca, ponto culminante da Cidade com 1024 metros de altitude. SITE NÃO OFICIAL.
"Quero poder deixar esse mundo melhor do que encontrei..."



Histórico da Região

No início, toda a região da Baixada de Jacarepaguá não tinha um dono, embora a rica diversidade de seres vivos. Índios, animais e vegetais conviviam com inteligência em simetria às leis da natureza. Essa harmonia ambiental cessou com o descobrimento do Brasil. O rei de Portugal passou a ser proprietário de tudo, com o poder de dividir o mundo descoberto entre os vassalos sem, contudo, perder a autoridade central e absoluta. Seus representantes no Brasil também tinham direito de doar em seu nome terras para a agricultura. Eram as chamadas sesmarias.

    Em 1º de janeiro de 1532, ao avistarem pela primeira vez a entrada da Baía de Guanabara, os navegantes portugueses pensaram ter encontrado a foz de um grande rio, ao qual denominaram Rio de Janeiro. A partir de 1555, os franceses tentaram se estabelecer em algumas ilhas da Baía de Guanabara, atraídos pelas riquezas e pela geografia estratégica da região. Aproveitaram então para fazer aliança com os índios tamoios contra os portugueses.

Vista da entrada da Baía de Guanabara
   
A fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro pelos portugueses, em 1º de março de 1565, junto ao Morro Cara de Cão, na entrada da Baía de Guanabara, serviu como base de ataque aos franceses. Com o intuito de proteger a cidade de ataques piratas e após a expulsão dos franceses, em 1567, a cidade foi transferida para o Morro do Castelo, onde os jesuítas se estabeleceram.

Salvador Correa de Sá

    A fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro pelos portugueses, em 1º de março de 1565, junto ao Morro Cara de Cão, na entrada da Baía de Guanabara, serviu como base de ataque aos franceses. Com o intuito de proteger a cidade de ataques piratas e após a expulsão dos franceses, em 1567, a cidade foi transferida para o Morro do Castelo, onde os jesuítas se estabeleceram.

    Os primeiros sesmeiros, entretanto, não cultivaram os solos recebidos. Em 1594, os filhos do Governador Salvador Correia de Sá, Gonçalo Correia de Sá e Martim Correia de Sá, fizeram petição ao pai-governador para a concessão da sesmaria de Jacarepaguá para eles, alegando que, passados quase trinta anos, os antigos sesmeiros não tomaram posse da mesma.
“... seus dois filhos, Gonçalo e Martim de Sá, vieram a ser os dois maiores latifundiários do Rio de Janeiro ao receberem, em 09 de setembro de 1594, toda a terra existente entre a restinga da Tijuca e Guaratiba. Estas sesmarias correspondiam, portanto, a toda a região hoje conhecida por Baixada de Jacarepaguá. Seus direitos foram confirmados, em 1597, por Felipe I, de Portugal, e os irmãos de comum acordo partilharam a propriedade. Tocou a Martim, que a passou para o filho Salvador Correia de Sá e Benevides, a área leste da lagoa de Camorim, onde foram construídos os engenhos da Tijuca, Nossa Senhora do Desterro e Nossa Senhora da Cabeça, correspondendo hoje às localidades de Itanhangá, Anil, Freguesia, Taquara, Cidade de Deus, Gardênia Azul e Barra da Tijuca. À parte de Gonçalo de Sá compreendia a área a oeste de Camorim até as terras dos padres da Companhia de Jesus, em Guaratiba e incluía o que hoje conhecemos por Vargem Grande, Vargem Pequena e Recreio dos Bandeirantes. A divisa entre as duas sesmarias seria uma linha entre a Pedra Branca e o rio Pavuna, acompanhando o curso deste até sua foz, e dali em linha reta até o mar.”
( Conquistadores e povoadores do Rio de Janeiro, Elysio de Oliveira Belchior, 1965)


    Martim Correia de Sá dedicou-se a política. Foi Governador do Rio de Janeiro em dois períodos: 1602 a 1608 e 1623 a 1632. Casou-se com a espanhola Maria Correia de Sá e Benevides. O primogênito dessa união foi Salvador Correia de Sá e Benevides, que iniciou a dinastia dos Viscondes de Asseca, de grande importância na história da região.

Arraial do Camorim - 1917

    Enquanto irmão Martim governava o Rio, Gonçalo ocupava a sua sesmaria. Construiu o Engenho do Camorim e arrendou boa parte das suas propriedades a terceiros. Assim, os domínios de Gonçalo se transformaram rapidamente em povoações, enquanto os de Martim até hoje têm grandes vestígios rurais.

Capela de São Gonçalo do Amarante

    Outras posses seriam somadas ao patrimônio de Gonçalo de Sá: senhor de engenho na várzea de Jacarepaguá, receberia em 1602 e por duas vezes em 1603, chãos para casas e ruas na várzea do Rio de Janeiro, numa época em que seu irmão Martim era governador da cidade. Em suas terras do local então denominado Pirapitingui, hoje Camorim, limite com as terras do irmão, o proprietário mandou construir, em 1625, uma capela dedicada a São Gonçalo do Amarante. Esta forma, então corrente, de demonstrar fé e angariar prestígio, foi também empregada por Martim de Sá que, instituiu na igreja matriz de São Sebastião, no morro do Castelo, uma capela para Nossa Senhora da Cabeça, protetora também da capela do Engenho D’Água, sua principal propriedade em Jacarepaguá.

    Gonçalo Correia de Sá casou-se com Dona Esperança da Costa. Dessa união nasceu a filha Vitória de Sá. Em 1628, chegou ao Rio de Janeiro o fidalgo espanhol Dom Luís Céspedes Xeria, que viajava desde Madri para Assunção, a fim de assumir o cargo de governador do Paraguai. Céspedes foi hóspede oficial da cidade, pois, na época, Portugal e Espanha estavam unificados sobre a mesma coroa. No dia 21 de março de 1628, em grande festa na casa do então governador do Rio de Janeiro – Martim Correia de Sá, Céspedes casou-se com Vitória Correia de Sá, filha de Gonçalo e sobrinha de Martim. Como dote de casamento, Gonçalo doou parte de sua sesmaria de Jacarepaguá a Dom Luís Céspedes. Os irmãos Correia de Sá faleceram anos depois: Martim em 1632 e Gonçalo em 1634. Nesse mesmo ano de 1634, a mulher de Gonçalo, Dona Esperança, e a filha Vitória venderam a propriedade a Salvador Correia de Sá e Benevides, filho do falecido Martim. Dona Vitória, entretanto, não se desfez de tudo. Ela continuou com a parte que o marido recebera de seu pai como dote de casamento. Em 30 de Janeiro de 1667, Vitória de Sá, viúva e sem filhos, meses antes de falecer determina em seu testamento:
    “Declaro que as terras desde o rio Pavuna até o mar e correndo a costa até junto da Guaratiba, com seus montes, campos, restingas, lagoas e rios, são meus, que nomeio e instituo por herdeiro universal de todos os bens aqui nomeados e dos que adiante por alguma razão me pertença, ou seja herdeira ou restituição de minha alma, ao mosteiro de São Bento da inovação de Nossa Senhora de Monteserrat, desta cidade do Rio de Janeiro.”
( História das Ruas do Rio de Janeiro, Brasil Gerson, Rio de Janeiro: Brasiliana, 1965)

    Os beneditinos, estabelecidos no Rio desde 1589, criariam em suas terras na Baixada de Jacarepaguá algumas fazendas prósperas e notáveis, as já citadas propriedades de Camorim, Vargem Pequena e Vargem Grande. Ali, a criação de gado, o cultivo da mandioca e o preparo da farinha secundariam o cultivo da cana-de-açúcar.
    Assim o século XVII, marcado pelo sucesso da cultura açucareira, testemunha na formação de Jacarepaguá e Barra da Tijuca o domínio dividido entre os Sá e os beneditinos.

 A Invasão Francesa e a Planície dos Onze Engenhos - Século XVIII


Em 1710, cerca de 1000 homens franceses comandados por Duclerc, vieram do litoral de Guaratiba e desembarcaram rumo à cidade pela serra dos Três Rios. O espanto que deve ter causado à pacífica planície a passagem da tropa inimiga só não terá sido maior do que os danos causados à cidade. Tanto que em fins dos anos 700, os governantes ainda se preocupavam com a lembrança alarmante da invasão francesa. O marquês de Lavradio, por exemplo, por volta de 1777, fortifica a região, prevenindo-se de outras incursões contra a cidade – afinal neste ano uma armada espanhola tomaria Santa Catarina e eram constantes as lutas no Sul. Instalaram-se duas baterias entre a lagoa de Marapendi e o mar, outras duas no Alto da Boa Vista e Barra da Tijuca, e duas mais, denominadas Itapuã e Pontal, na praia de Sernambetiba, atual Recreio dos Bandeirantes. No caminho para o Engenho Novo (em terras pertencentes a Jacarepaguá), três baterias foram instaladas.

    Alguns destes sítios eram facilmente reconhecidos ainda em 1936. Magalhães Correia no seu Sertão Carioca menciona e desenha um antigo canhão de bronze, datado de 1775, que permanecia no ponto mais alto do caminho entre o Grajaú e Jacarepaguá. A prefeitura planejava aproveitá-lo numa área turística que não chegou a ser construída. Ilustra também o mesmo autor os canhões que ainda estavam à época nas areias do Pontal. Destes últimos, nenhuma notícia recente; dos da fortaleza dos Três Rios, sabe-se que desapareceram entre 1945 e 1950.

    Ao atravessar a planície rumo à serra do Grajaú e dali ao Centro do Rio, a força francesa não encontrou resistência e não teve, decerto, reclamações quanto ao abastecimento de víveres. Terra próspera, mas situada à margem dos domínios da cidade, os ecos do Centro não chegavam até ali, concretizando seu alheamento. Duas áreas adjacentes, a venda do Campinho (em Jacarepaguá) e Guaratiba, atuavam como intermediários nos contatos com outras áreas cariocas. Os portos a oeste, como Guaratiba e, mais tarde, Sepetiba, relacionavam-se preferencialmente com áreas da orla das baías de Sepetiba e ilha Grande, não sendo rotineiras as viagens em mar aberto, pelo litoral sul até a entrada da barra e daí aos portos do interior da Guanabara.
    Esta invasão chamou atenção das autoridades locais para a necessidade de povoamento da região. Neste momento, foi aberto o Caminho da Grota Funda, que ainda hoje serve como eixo de uma importante via de circulação na área do Maciço (a Avenida das Américas).
    Na transição do século XVII para o século XVIII teríamos as seguintes áreas de influência:
  • três propriedades dos beneditinos, em Camorim, Vargem Grande e Vargem Pequena;
  • a fazenda da Taquara;
  • a fazenda do Engenho d’Água;
  • o Engenho de Fora;
  • o Engenho Novo, correspondendo hoje à Colônia Juliano Moreira;
  • a Fazenda Rio Grande, hoje Condomínio Passaredo;
  • o Engenho da Serra, na região da Serra dos Três Rios;
  • o Engenho Velho da Taquara, atual localidade da Boiúna;
  • a Fazenda da Restinga, de descendentes do Sá, que deu origem à parte mais antiga da Barra da Tijuca.
    Daí a denominação de Planície dos Onze Engenhos, dada à Baixada de Jacarepaguá.

O Século XIX e as Fazendas de Café
Nas fases iniciais da ocupação, a Baixada de Jacarepaguá esteve entregue à sua própria sorte, praticamente isolada, tal era a distância e tantas as dificuldades que se interpunham entre a região e o centro urbano. Sua importância e prosperidade, decorrência dos anos ricos do cultivo da cana-de-açúcar, materializou-se nas residências e igrejas em torno das quais se concentrariam populações solidárias.

    No século XIX, o declínio da cana e a opção pelo cultivo do café alteram esta situação. Com o fim da escravidão, que sustentava a exploração da terra e a circulação de bens e indivíduos, a Baixada de Jacarepaguá testemunha o colapso das fazendas, assoreamento dos rios, aumento dos brejos, destruição de caminhos, conservando-se aqueles bens do passado protegidos, pelo isolamento, das descaracterizações aceleradas sofridas por outras partes da cidade.

    O século XIX, na história da Baixada de Jacarepaguá, corresponde a um período em que a região vai quebrando seu isolamento e tornando-se cada vez mais periferia do Rio de Janeiro, com a vinda da “Corte” em 1808.

    No início deste século, o café expandiu-se bastante na província do Rio de Janeiro. Em Jacarepaguá, por exemplo, foram criadas muitas fazendas para sua plantação, além de ser cultivado também nos solos férteis dos antigos engenhos de açúcar.

    As plantações de café e a criação de pastos arrasavam a Mata Atlântica da região. Ao longo dos séculos surgiram, na região da baixada, novas chácaras, fazendas e pequenas propriedades. As casas, como as dos beneditinos, são para passar temporadas, para meditar, para recuperar a saúde e para produzir um centro que se impunha – a Corte, que passava a incluir a baixada de Jacarepaguá.

    A abolição da escravatura daria início a um período de colapso nos cultivos e na manutenção das antigas vias navegáveis. Em conseqüência disto, toda a circulação passaria a ser feita pelos caminhos terrestres que seriam alargados e regularizados, mas ainda de barro, servindo à população que se adensava e que escolhia a região como local de residência.

    As alterações, que se concentraram ao longo das vias principais, atingem também áreas interiores. Em 5 de janeiro de 1891, os beneditinos, cheios de dívidas, venderam suas terras para Companhia Engenho Central de Jacarepaguá com capitais do Banco de Crédito Móvel, que acabaria por tornar-se o novo dono. Os arrendatários dos frades de São Bento tiveram seus direitos respeitados pelos novos proprietários, que passaram a cobrar-lhes aluguel, enquanto não se resolviam detalhes quanto à venda em conjunto. Neste intervalo, os moradores foram trazendo parentes e amigos que passaram a construir suas moradias nas vargens, se aproveitando do período de indecisão. Estes pequenos sitiantes garantiriam a importância da produção agro-pecuária característica do bairro e constituíram a Caixa Auxiliadora dos Lavradores de Jacarepaguá e Guaratiba. E, a fim de fazerem prevalecer os seus direitos, conseguiram que o banco lhes vendesse, em prestações, as terras que ocupavam como arrendatários.

    A família Sá conservaria suas terras até 1876, em função do que estabelecia a ‘lei do morgadio’, que impedia a partilha de terras que constituíssem um patrimônio familiar, mantendo-o íntegro, mesmo em caso de sucessão hereditária, pela qual passavam ao filho mais velho, com exclusão de outros herdeiros, ainda que legítimos.

    Com a revogação da ‘lei do morgadio’, foi vendida pelos descendentes dos Sá, entre outras áreas, a correspondente à Fazenda da Restinga, que praticamente cobria a metade a leste do atual bairro da Barra da Tijuca. As glebas desmembradas da Fazenda da Restinga vieram mais recentemente a fazer parte do patrimônio da Carvalho Hosken – Engenharia e Construções.

    Nove anos depois, o Banco de Crédito Móvel repassou suas terras à Empresa Saneadora Territorial e Agrícola S.A., ainda hoje grande proprietária de terrenos na área. Aliás, essas terras sempre foram propriedades de poucos, até que elas fossem parceladas em lotes, a partir dos anos 70 do século XX. Pelo que se depreende da leitura de várias fontes, são poucos e quase sempre os mesmos os nomes que se vê associados a elas. No início foram os Sá, o Mosteiro de São Bento, depois os Telles de Menezes e finalmente os grandes proprietários de hoje: Carvalho Hosken, Pasquale Mauro e Tjong Hiong Oei (da empresa ESTA).

    No século XX, verificou-se a divisão das fazendas em lotes rurais, num estímulo à ocupação local, com a implantação do plantio de banana. A laranja também ocupou grande parte das encostas do Maciço da Pedra Branca, logo após 1920. O cultivo desenvolveu-se em grande escala em todo o Estado do Rio de Janeiro. Porém hoje, a cultura que predomina em toda a área ainda é a banana.